Mulheres quilombolas transformam plantas típicas do Cerrado em remédios, alimentos e cosméticos

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Quando criança, Dirani acompanhava sua mãe no trabalho na roça. A mãe derrubava cachos do coco indaiá, uma espécie típica do Cerrado, e a menina ia recolhendo os frutos do chão. “Com 10 anos eu já sabia tirar o óleo também”, conta Dirani Francisco Maia, hoje com 55 anos. Moradora do Quilombo Kalunga, no nordeste de Goiás, hoje ela segue passando o conhecimento para suas filhas e netas. A diferença é que o trabalho se profissionalizou e hoje a venda dos óleos de coco são uma fonte de renda da família.

O conhecimento passado de geração em geração é uma das características dos povos tradicionais do Brasil. Hoje, mais de 650 mil famílias se declaram assim no país. Entre as sete categorias mapeadas, os quilombolas são um deles. Nesta série de reportagens do Desafio Natureza sobre Povos Tradicionais, o G1 visitou o território kalunga para conhecer o modo de vida dos quilombolas e sua relação com o meio em que vivem.

Dirani é uma das 10 mulheres que compõem as Mães de Óleos, marca criada por mulheres kalungas para comercializar os produtos feitos com recursos naturais do Cerrado, bioma que, com suas árvores baixas e retorcidas, esconde uma rica biodiversidade.

O projeto surgiu com o apoio da Articulação Pacari, rede formada por 18 organizações comunitárias de mulheres do Cerrado. A articulação identificou artigos produzidos pelas mulheres que tinham potencial de serem comercializados, como os óleos de pequi, mamona e tingui, além da pimenta de macaco, da polpa do coco indaiá e de remédios feitos de raízes naturais, entre outros produtos.

Em parceria com as mulheres, a entidade ajudou a elaborar a logomarca e os rótulos dos produtos, se adequando às necessidades do grupo, como a falta de alfabetização. “A gente viu a importância de colocar o desenho do produto que elas estão vendendo em cada rótulo. Por exemplo, no óleo de mamona, ter a mamoninha desenhada”, contou Jaqueline Evangelista, coordenadora executiva da Articulação Pacari.

Com a profissionalização, o próximo passo foi conectar as mulheres com feiras de cidades próximas, como Alto Paraíso, referência para turistas que visitam a Chapada dos Veadeiros. O foco do projeto é a venda direta, sem intermediários.

“Com o óleo de coco você pode fritar um ovo, pode botar no cuscuz, pode botar no feijão, fazer qualquer coisa com ele. É bom para a pele e para o cabelo também.” – Dirani Francisco Maia, quilombola

O pote de vidro com 50 ml de óleo de pequi ou coco indaiá custa cerca de R$ 10. O de mamona sai mais caro, o mesmo valor por 30 ml. Com a nova embalagem, as vendas aumentaram.“É notório que a embalagem ampliou a identidade dos produtos enquanto povo e enquanto identidade de origem. Acho que é importante a gente pensar que, se aumenta a comercialização, aumenta a autonomia delas”, disse Jaqueline.

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