Publicado em: Maio 11, 2022
No último dia de sua viagem a Minas Gerais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, na manhã de hoje, 11, de um encontro com reitores das universidades federais, no qual recebeu um documento com propostas da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Antes do encontro, ele visitou o Memorial da República Presidente Itamar Franco, na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Em seu discurso para os dirigentes universitários e estudantes no auditório da UFJF, após ouvir os reitores se manifestarem sobre a destruição das federais promovida desde o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016, o ex-presidente falou sobre a necessidade de ampliar os investimentos federais na Educação, como foi feito em seu governo, de 2003 a 2010.
“Quando a gente fazia uma reunião, qualquer coisa que você tentava propor como algo novo, sempre aparecia a palavra gasto tentando mostrar que a gente não podia fazer. Tudo falta dinheiro, então é preciso que você utilize a criatividade. Uma coisa muito importante na minha vida foi que na primeira reunião de governo eu disse que a palavra gasto não valia para educação, era preciso que a gente tentasse recuperar o atraso secular a que o Brasil tinha sido submetido”, contou Lula.
Segundo ele, o exemplo gritante desse atraso está no fato de que o Brasil só foi ter sua primeira universidade em 1920, enquanto outros países menores da América do Sul tinham as suas há séculos: o Peru, por exemplo, desde 1554. Hoje, no entanto, investir no ensino superior não passa apenas por financiar e ampliar as universidades, mas também por ampliar a participação delas nas cidades onde ficam e na sociedade brasileira.
“Nós precisamos desenvolver as universidades em outras coisas, a universidade não pode ser um centro de luxo para produzir para ela própria, ela precisa se abrir para a sociedade. As pesquisas têm que ser transformadas em produtos industrializados, para que as pessoas possam produzir. Não é possível você fazer uma tese acadêmica extraordinária e guardar numa gaveta e não transformar aquilo em algo para o bem da humanidade, para o bem do país”, declarou o ex-presidente.
Para Lula, as mudanças ocorridas na economia e no mercado de trabalho também precisam ser discutidas nas universidades brasileiras.
“É preciso discutir um novo emprego. O mundo que nós conhecíamos desabou, a indústria como nós conhecíamos mudou. Quando eu era presidente de sindicato, nós tínhamos 44 mil trabalhadores na Volkswagen e fazíamos 1,2 mil carros por dia. Hoje são 7 mil e produzem 3 mil carros. Onde foram parar essas pessoas? É preciso o avanço tecnológico, mas toda vez que tem um avanço, um monte de gente fica fora”, ressaltou.
Ele também contou que sua motivação para voltar ao centro da disputa política ao país se deve à destruição que foi promovida nos últimos anos de todos os programas e políticas públicas que ajudaram o Brasil a chegar a ser a sexta economia mundial nos governos do PT. “Faz 12 anos que eu deixei o governo e ao invés de avançar para um padrão Noruega, um padrão França, o país retrocedeu”, criticou.
Em defesa das universidades
Na abertura do evento, reitores de diversas universidades se manifestaram, denunciando a destruição do sistema público de ensino superior e trazendo propostas para a sua recuperação. O reitor da UFJF e presidente da Andifes, Marcus David, fez uma denúncia séria sobre o financiamento das universidades.
“O que estamos sofrendo nas universidades federais desde 2016 é muito grave. Quando analisamos o orçamento discricionário, o que está sendo praticado em 2022 é inferior à metade do que foi executado em 2015. Manter as universidades com esses cortes tem gerado consequências drásticas. Estamos comprometendo a qualidade da formação quando precisamos reduzir bolsas de iniciação. Estamos sucateando equipamentos essenciais como laboratórios. E estamos incapazes de financiar a permanência dos nossos estudantes e sofrendo uma trágica evasão”, relatou.
Para ele, o arrocho orçamentário que vem sendo praticado no país não está ligado apenas ao teto de gastos do governo federal, mas também a um modelo de país, defendido pelo atual governo, que não inclui a educação superior como algo a ser disponibilizado para a população pobre. “Para quem quer reduzir o Estado brasileiro, não existe espaço para uma rede de universidades públicas”, declarou.
A reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires de Carvalho, defendeu o sistema público de ensino superior e as políticas afirmativas implementadas pelos governos Lula e Dilma. “Olhando para o passado, a gente tem uma dívida muito grande. Temos pago através do programa de cotas, mas ele precisa ser defendido e ampliado por todos. E é somente através do pagamento dessa dívida e do resgate histórico, nós teremos uma nação com justiça social e soberana”, destacou ela.
A ex-reitora da UFJF e prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão (PT), também defendeu o papel das entidades federais de ensino. “Espalhar as luzes é o papel das universidades, particularmente nesses tempos sombrios. É fazer brilhar não só a razão, a ciência, mas o desejo das pessoas de se incorporarem à sociedade brasileira. Por isso que a nossa juventude aguarda com tanta esperança”, disse ela.
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